quarta-feira, 25 de maio de 2011

D'ailleurs

D'ailleurs
(1999)


An exploration of the man and his ideas, DERRIDA'S ELSEWHERE investigates the parallels between the personal life and the life work of arguably the most important philosopher of the 20th Century, Jacques Derrida. We follow Derrida around his home, office, in the classroom and on his travels as he speaks of the suffering, the challenges and the questions that have conditioned his thought since his childhood in Algeria. The film is woven around readings from Derrida's book Circumfession, evoking a number of seemingly disparate themes including hospitality, religion, sexuality and the place of the subject in philosophy. Derrida shows us the common thread he perceives running though them: responsibility. Incorporating related imagery, DERRIDA'S ELSEWHERE uses footage of the places Derrida knew in his childhood and adolescence in Algeria, photos of his life there, super-8 footage from the 1960's and 70's.

Fonte:http://www.imdb.com/title/tt0356496/

Uma exploração do homem e de suas ideias, Alhures de Derrida, investiga o paralelo entre a vida pessoal e profissional daquele que é considerado o mais importante filósofo do século XX, Jacques Derrida. Seguindo Derrida por sua casa, escritório, em sala de aula, em suas viagens enquanto fala sobre o sofrimento, as mudanças e as questões que o condicionaram desde sua infância na Argélia. O filme navega pela obra Circonfession de Derrida, tratando dos mais diversos temas como hospitalidade, religião, sexualidade e o lugar do sujeito na filosofia. Alhures incorpora cenas de locações que Derrida conheceu na infância e na adolescência na Argélia, em fotografias e filmagens super-8 das décadas de sessenta e setenta. (Trad. Enaldo P. Soares)













domingo, 22 de maio de 2011

Aula 3


Caros alunos.

Postamos a primeira página do Diário de MinLit (Aula 3).

Este Diário é o registro de nossas atividades na disciplina deste semestre: Literatura mineira: cultura e identidade.

A proposta é que esta primeira postagem receba a contribuição de todos, através da inserção de frases no corpo do texto ou de comentários que agreguem a perspectiva abrangente da turma.

O espírito que orienta a criação do blog é a necessidade de se acompanhar a pulsação do que acontece na sala de aula.

Um modelo próximo da composição dos textos pode ser o da enciclopedia Wikipedia.

E outras formas de invenção.

Mãos à obra.

Luiz Fernando Medeiros.



Iniciamos a aula com a reflexão de Derrida sobre o que é poesia. Neste artigo-entrevista, intitulado O que é poesia?, Derrida mostra a trajetória do filósofo em  direção à arte do poema, sem dizer sobre, sem dissertar sobre, evitando o modo discursivo que se estrutura através do dispositivo S é P. Várias passagens são muito importantes nesse texto , sobretudo aquelas em que escreve que o poema é uma inscrição da paixão de uma  marca singular. E que pressupõe que a memória foi desamparada. A condição do poema é fazer a travessia da criação e da leitura sem garantia , correndo o risco do acidente.
A partir destes descritores  entramos no texto de Drummond, para olhar o modo como o poema lida com o passado,  interpretado como um arquivo móvel.
O primeiro poema escolhido foi Paisagem: como se faz. Começamos a comentar o título que é um  tipo de procedural, um gênero lingüístico.  Parece que o poema vai ensinar a fazer uma paisagem.
Em seguida comentamos o primeiro verso . E fomos mostrando como o poema constrói-se através de paradoxos, de formulações aporéticas, de transformações, até chegar a inverter o olhar do sujeito lírico,  e operar um transformação do ser que olha em ser olhado e bovino, um  ruminante integrante da paisagem.
Este poema suscitou várias declarações, por parte dos integrantes da turma, sobre gostar ou não gostar de poesia.
Em seguida fomos para a leitura de um outro poema, situando-o no contexto da obra: Viagem na família. Neste poema mostramos que a sua estruturação se faz em torno da conversa com o fantasma do pai, entre a provocação para que o pai fale e sua mudez. Destacamos nessa insistência uma singularidade modernista: a repetição sem vírgulas do vocábulo “Fala” e o seu correlato opositivo “Porém nada dizia”. A síntese do poema está  na expressão “abraço diáfano,” criação poemática  para realiza a cena em literatura  do encontro com um fantasma.
Terminamos a aula comentando o slogan I like Ike (da campanha política de Eisenhower), analisada por Jakobson como demonstração de que as agências também se valem na propaganda da materialidade da função poética, com um trabalho sobre a camada sonora da mensagem.

sábado, 21 de maio de 2011

Razão e sensibilidade.




Colegas, deixo aqui uns versos de autoria de Khayyam (1048-1131) que me tocaram assim que os li.

Os astros nada ganharam
com a minha presença neste mundo.

Sua glória não aumentará
com a minha derrocada.

E meus ouvidos são testemunhas:
ninguém jamais foi capaz de me dizer
por que me fizeram vir
e por que me fazem ir embora

Procura da Poesia


Procura da Poesia
(Carlos Drummond de Andrade/1945)


Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.

O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.

Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

Jacques Derrida (1930-2004) em quatro lições