Abre-se um novo embate. Abre-se a musa.
Eis que o metro força o antigo engenho.
Devo encaixar o mundo numa blusa e, pródigo, doar o que não tenho.
Devo encontrar outrora este soneto.
Também medir com régua cada estrofe.
Pequeno diário da palavra
Toda palavra tem um oco
uma fenda uma avessa
claridade
de onde as formigas emigram.
Há gravetos, conchas vocabulares,
acentos à paisana, vírgulas úmidas e bivalves.
Um vento antigo
tange as crases desse poema, arrasta
os pontos de exclamação pelos cabelos.
Estende-os para secar
o sol mais triste de seu nome.
O meio-dia a esmo
bate a sua orelha na cancela.
Toda palavra tem sexo e sintaxe,
um amarelo em luta
com as folhas mortas no terreiro.
Alfabeto crivado de dízimos
onde não se pode tagarelar
sem doer um grão de arroz
por sob a língua.
Palavra carece de pátria
lugar de raiz e eleição.
Onde adensa sua espera, duas borboletas
grifam a giz a paisagem.
Confissão
Sejamos sinceros, meu bem,
dispamos o pijama
das mitologias:
a eternidade não conhece o amor.
O amor também não sabe
verdadeiramente
o que é o amor
e, no fundo, nós nunca acreditamos muito
em parto
sem dor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário